Era um dia qualquer em dezembro de 2016, quer dizer, não era um dia qualquer. Naquele dia tinha saído de bike pra ver os Pícaros Incorrigíveis (meu deus, quando é que vai sair essa narrativa) com seu amazing espetáculo de rua Devorando Heróis. Como não havia começado e as pessoas estavam ali nos preparativos, decidi dar uma volta na cultura alemã. Chegando lá acendo meu cigarro de palha e sento no banco de concreto. Ao lado, dois rapazes e uma moça foram envolvidos pela fumaça e começam a conversar. Quer dizer, o papo fluiu mesmo com o que tava segurando vela, era Rami, o baterista do Casa de Velho.
Não conhecia a banda, mas de cara fui absorvido pela simpatia da conversa. Ficamos ali por alguns minutos confabulando sobre o futuro do planeta. Nos despedimos, peguei um contato e fui embora pra praça.
Não cheguei a escutar o som deles jamais, tão pouco revolvi a conversa, até que no dia em que fui pro Maloca à convite de Aderiva, que conheci no rolê com a Lascaux, pra fazer umas imagens. Lá de trás do palco acenamos um pro outro e logo depois, na rua de trás, segurando uma cachaça num copinho de café, encontro Rami com seus colegas.
– “E aí, pô cara, tudo beleza? 6 vão tocar por aqui?”
– “Tudo sim, vamos tocar amanhã, as 19, no palco ali atrás…”
– “Olha só, tô com uma câmera aqui, rola de chegar pra fazer umas imagens?”
– “Rola sim, demorôu, chega aí um pouco antes e a gente desenrola”
No dia seguinte apareço por lá, tento entrar no backstage mas descubro com o solícito segurança que é preciso autorização, evento organizado. Foi quando conheci uma simpática pessoa de rosa que fez a ponte e confirmou com o pessoal da banda o meu trabalho, ganhei uma pulseirinha que me deu acesso aos palcos.
A essa altura Oscar Arruda já havia terminado sua apresentação e o pessoal da banda fazia aquecimento atrás do palco. Cheguei cumprimentando a galera e posicionei minha câmera. Desci ao lado e me deparei com uma ótima apresentação musical bem encenada.
– “Aumenta o vocal!” – reclamavam da plateia
Mas que nada, com uma apresentação hipnotizante, testemunhada por uma platéia engajada, não havia problema técnico que estragasse o prazer da minha primeira experiência com a banda, que trago pra vocês em um fragmento 360º. Aumenta o volume que a captação de áudio é direta da câmera:
Depois do show passaram alguns dias e fui lá curtir a fã page, ouvir o disco, ler matérias e retomar o contato com o pessoal da banda para uma pequena entrevista. Preparando uma turnê por São Paulo, o pessoal me responde às perguntas enviadas por email:
Como foi tocar no Maloca, o que vocês acharam do público, da experiência e do festival?
É uma experiência rica levar o trabalho para o Maloca . O festival consegue gerar uma atividade artística intensa na cidade, tudo acontecendo, as pessoas recebendo esses trabalhos; e isso é necessário. A galera que acompanha o show da Casa de Velho é gente linda e boa, gostamos muito do que acontece. Esperamos que cresça, amadureça mais e que faça nossos olhos voltarem pra cidade.
Vocês estão indo para SP agora, depois de já terem tocado em diversos festivais aqui, como se deu esse processo? Qual a expectativa de vocês?
Há pouco mais de um ano a gente vem trabalhando um show, ranço, e o objetivo é circular com esse show. A produção é independente, então a expectativa é criar vínculos com essa outra cidade
Geralmente alguns artistas saem de Fortaleza com destino a SP e estabelecem morada por lá, devido ao público ser maior, questões de mercado, como vocês veem esse deslocamento, essa necessidade de sair, e como vocês veem Fortaleza no cenário nacional?
É, infelizmente, inegável que Fortaleza não possibilita estrutura suficiente para viver da produção artística. Ainda assim, essa produção acontece, se vive de arte, é difícil,mas desse meio saem trabalhos maravilhosos e gente incrível faz isso rolar na cidade em todas as linguagens. Sobre essa ida pra SP seja fixa ou passagem, talvez faça parte do fluxo do país. Estado com uma efervescência cultural, com possibilidades grandes de troca e crescimento. Mas melhor será, poder trabalhar com arte em qualquer parte do mundo. Não precisando ser necessariamente SP. Tem o mundo todo, tem a América latina… Fortaleza é uma cidade que merece mais de investimentos reais e conscientes, e de que mais gente possa mostrar seus trabalhos e mais do que isso, seja possível viver.
Casa de velho, esse nome, vocês todos bastante jovens, ao mesmo tempo o som de vocês tem uma consistência de quem já toca há eras, como surgiu isso?
Surgiu a partir de um reunião de canções do Mateus e em parte de temas instrumentais do Plínio. O formato inicial era duo e só depois de alguns meses do lançamento do projeto foi que fomos assumindo a formação quarteto. Começa ali nas canções e todos os recursos e linguagens que dispomos para realizar o trabalho. Quem sabe somos mesmo de eras.
Como está o processo do próximo disco, vocês estão gravando, tem expectativa de lançamento?
Está em vias de finalizar e estamos muito trabalhando pra que seja em breve. Só isso que dá pra dizer sobre ele por agora, mas vai vir um trabalho bonito e que a gente acredita.
Como funciona o processo de composição de vocês?
Das canções que trabalhamos até agora, grande parte Mateus levou para o grupo e o trabalho coletivo de arranjar e harmonizar toma como mote a própria música. Outra parte do trabalho foram letras escritas para temas instrumentais compostos por Plínio. Tem muita vida pela frente, então outros trabalhos podem vir de outras formas.
Vocês trabalham com alguma produtora ou produzem vocês mesmo tudo?
Mateus e Rami fazem o atual trabalho de produção.
Onde vocês gostariam de estar em 2018, como grupo?
Esperamos que trabalho esteja com uma rotatividade maior, ter mais estrutura para poder continuar produzindo e viajando e trocando experiências em novos espaços. Fazer outros festivais interessantes. E lançando novos trabalhos, novas propostas
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Abaixo um link pro canal do Youtube da galera: