Criolo relançou, dez anos depois, o disco “Ainda Há Tempo”. Recheado de beats e frases de efeito, o disco procura discorrer sobre a realidade da periferia. Da mesma forma foram os subsequentes “Nó na Orelha” e “Convoque seu Buda”.
São 9 faixas sobre preconceito, drogas, família, arte, violência e perrengues. A música de abertura “É o Teste”, manda a ideia: “O que penso família, ainda nela acredito”. Deus abençoe meus pais e fortifique meu espírito. Pior que um trator, o Grajaú na missão. Vários manos representam, relâmpago e trovão. Sem oportunidades, o negócio que mais cresce é vender uma parada, ou então cantar um rap”.
Competente, ainda mais ao lado de figuras como Ganjaman e Tropkillaz, Criolo (que já foi Doido) destila nesse velho/novo disco toda a sua indignação diante do descaso dos governantes e da própria civilização. Sem dúvida, vale a audição, disponível em criolo.net.
Com 40 anos de idade e depois de já ter gravado até com Ivete Sangalo, o que mais chama a atenção é que Criolo, desde sempre esteve nessa de “catequização pelo rap”. Em “Breacó”, reforçando uma linha moralizante, solta a frase: “E se o demônio usa saia, valorize sua mina. Sexo é bom, mas sem sentindo contamina uma mente vazia que estraga a família. Uma coisa é prazer, outra coisa é orgia“. Já a faixa “Vasilhame” condena severamente quem faz uso excessivo de álcool em versos como “Quero ver a mãe tranquila sabendo que o filho frita. Um inocente goró, depois um doce, uma balinha. O perréco atiçando com as mina de sainha“. Na faixa título, ele segue rimando “Na praia, Jesus me carregou no colo. Eu vi o par de pegadas, não entendi o óbvio. Que o fardo não é maior do que posso carregar”.
E essa pregação permeia toda a carreira de Criolo. Quem já foi aos shows, sabe do que estou falando. Em um dado momento, mais cedo ou mais tarde, você se questiona se não foi para o culto, depois de tanta desaprovação a quem faz uso de drogas, em nome do Senhor e nada me faltará. No evangelho segundo Criolo, existindo ou não amor (em qualquer que seja a cidade), não precisa morrer pra ver Deus.
Dez anos depois, Criolo, ainda há tempo mesmo?
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