Garantindo Sua Alegria

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16:20h – Era mais um final de tarde no início de setembro e o movimento no Benfica seguia seu curso normal. Pessoas se deslocando entre o Centro e os bairros periféricos dessa grande cidade, ônibus em alta velocidade no corredor do Av. Carapinima, famílias entrando e saindo do shopping… Em uma praça próxima, barracas de comida são armadas, enquanto os bares da região levantam lentamente suas portas. Mas um movimento em especial chama a atenção. Uma galera que em nada destoa do público habitual do bairro chega em busca de alegria. Turma pequena, mas nada tímida, vai se aglomerando em torno do Casarão Benfica para o 6º Festival Garantia de Alegria. Encontro esse que, junto com outros festivais, como o Fortaleza Cidade Marginal, vem movimentando a cena do rock independente na cidade.

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Casarão Benfica

18:00h – O final da passagem de som com a banda Cuspindo pra Cima é colado com o início de seu show e, portanto, do Festival. O público ainda é pequeno, mas curte muito o som pesado, com letras que abordam temas que expressam seu inconformismo com os rumos da sociedade, especialmente da juventude. Destaque para a bateria que garante o peso e faz uma cama para riffs de guitarra com muita influência de rocks clássicos.

18:47h – Cuspindo pra Cima finaliza e levanta o público, especialmente nas últimas músicas, como na divertida “Comendo o Cu do Diabo”. Abordam temas políticos lembrando, inclusive, a chacina do Curió no ano passado. Galera jovem, com banda recém formada que há pouco tempo estava na plateia do Casarão e agora se emociona por estar no palco de uma casa que, segundo seu vocalista, Israel Carvalho, “não é rotulada, é livre. Não é a casa do punk, não é a casa do grunge, é uma casa de música”.

Cuspindo pra Cima comendo o cu do diabo!
Cuspindo pra Cima (e comendo o cu do diabo!)

19:07h – Dropped Out sobe e executa de forma extremamente competente sua proposta: trash core, rápido, sujo, com letras contestadoras e políticas, trazendo ao palco a realidade das ruas. Guitarra, baixo e bateria com muita força. A banda já é figurinha carimbada em eventos do Casarão e, segundo a baixista, Dejane, esses eventos são importantes porque “o Festival Fortaleza Marginal e seus derivados dão espaço para projeto autoral que estava parado em Fortaleza”.

19:30h – Ao final de Dropped Out, sentimos o vocal do Elton enterrado no som, prejudicando muitas vezes a compreensão das letras, mas sua guitarra suja, junto ao baixo pesado de Dejane e a forte bateria de Ítalo, deram uma impressão muito boa da banda. Grande show. Barulheira total, no melhor dos sentidos.

Dropped Out
Dropped Out

19:45h – Monquiboy-Boo está no palco com um som calcado nos anos 90, lembrando a sonoridade grunge ou stoner rock em vários momentos. Moquiboy é um projeto de Ângelo Sousa, que compõe, toca todos os instrumentos, grava, produz e divulga tudo a partir de sua casa (viva ao século XXI). Mas no palco ele se une ao baixo de Saulo e à guitarra de Vitor para dar pulsação à sua música. Apesar do projeto ser gestado em seu quarto, Ângelo, que além do vocal é também responsável pela bateria da banda no show, diz que tocar em festivais como o Garantia é essencial. Segundo ele, “estar junto de bandas diferentes, conhecer uma galera, tocar com essa galera, usar drogas com essa galera, fazer um som massa com essa galera, é massa. E o que seria de nós sem tocar ao vivo?”.

Monquiboy-Boo
Monquiboy-Boo

20:51h – A banda Ouse vem com um rock visceral, muito bem executado. A bateria de Rony Duarte e o baixo firme de Suiane Pessoa fazem a cozinha perfeita para a guitarra distorcida de Ícaro Manfrinni e o excelente vocal de Juliana Pessoa. A vocalista tem forte presença, enfeitiçando o público para dançar próximo ao palco. Sua sensualidade naturalmente surge como atrativo, mas não se coloca à frente do som bem tocado que a banda tira de seus instrumentos. Chama atenção ser a segunda banda da noite a ter uma garota tocando baixo (a primeira foi Droped Out); quem não recorda de grandes bandas que tinham mulheres no baixo, como Talking Heads, Sonic Youth, Pixies, Suzi Quatro e tantas outras?

Ouse
Ouse

21:20h – Para a Ouse, parece ser uma emoção a mais tocar no Casarão, pois eles fizeram seu primeiro show nessa casa durante o Fortaleza Cidade Marginal. E percebem que o som autoral perdeu muito espaço para o cover nos últimos anos. O guitarrista Ícaro Manfrinni ainda parabeniza o produtor do Garantia, André Moura. “Galera que antes apenas assistia aos shows, agora formam suas bandas e tocam nesses eventos”. A Ouse acaba seu show como o grande destaque da noite.

21:29h – Totem and Barry’s sobe ao palco, marcando o início do final da alegria. Banda com formação power trio que tira um som bem característico dos anos 90, muito bem escolhida para fechar o evento, já que conta com alguns anos de estrada, participação em festivais diversos, EP’s e vídeos lançados. Seu som é marcado por riffs que grudam e o peso habitual do stoner rock. Percebem-se algumas variações, inclusive nos vocais do também guitarrista Stone Falcão, buscando harmonias em alguns momentos mais elaboradas, em outros mais pesadas, até mesmo punks. Fechou o Garantia com chave de ouro.

Totem and Barry’s
Totem and Barry’s

22:45h – Algumas daquelas figuras que chegaram ainda à tarde aos arredores do Casarão em busca de alegria agora vagam para seguir caminhos diversos, seja o de casa ou o do próximo bar. Pela expressão de seus olhares, a alegria foi garantida mais uma vez.

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